domingo, 15 de agosto de 2010

A simplicidade das palavras


As palavras eram a sua libertação
usava-as como um banho relaxante
a todo o momento
a toda a hora
vivia com a caneta
e um papel qualquer
guardados na mala
e de rascunhos
foi criando textos
secos, amargos e até felizes
eram nada mais, nada menos
que palavras pouco pensadas
mas instintivamente
transcritas em prosa
sentimentos em palavras
ou palavras com sentimentos
uma fonte inesgotável de ideias
corridas a tinta
de poeta tinha pouco
de selvagem muito
a fúria das palavras viera para ficar
e nem o pôr do sol
nas linhas douradas
das margens do Douro
foi capaz de a acalmar

"A menina abriu a porta
a um mundo de ilusão
acreditou no que viu
no que sentiu
a porta fechou-se
sem nada ficou
o corpo secou
o círculo envolveu-a
prendendo-a na teia
da tristeza"

Perdera os sonhos
até a vida
lhe parecera mais curta
mas era apenas o princípio
o certo era
que o pôr do sol acontecia
repetidamente
voltando a cada amanhecer
assim como as suas palavras
jorravam de uma fonte
como lágrimas
em águas de mar
dissolvendo-as
até ao mais básico dos elementos
na simplicidade das palavras

sábado, 7 de agosto de 2010

Espelho de água


"Espelho da alma
espelho meu
existe alguém mais opaco que eu?"
Caminhava com os pés na água
águas turvas
os remoinhos avistavam-se
mas afastavam-se com timidez
o perto fez-se mais longe
invertendo os ponteiros do tempo
num silêncio eterno
caminhava sem destino
arrastando as mágoas pela areia
ouvia vozes
eram os gritos das ondas
esmagadas nos rochedos

sem nada saber seguiu
onde parou?
talvez nunca tenha parado
afinal o mar não secou
nem as ondas deixaram de gritar
em cada despertar