sábado, 28 de julho de 2012

Novas mãos nas mesmas tintas


Cidália Oliveira (Texto&Foto)

Espalhou sonhos
entre prosas de assimétricas
embaladas em folhas
de palavras irregulares

Regou uma vida
que se repetiu
em cada quebra de luar

Talhou uma melodia
de palavras soltas
com uma voz que falhou
e uns olhos que secaram
no desespero vivo
de um verão tardio

Um tempo de dois dias
em que a vida se esmoreceu
um sorriso que ficou 
um vazio que se esqueceu
uma simples reticência
numa frase incompleta

Fez-se ao silêncio

entre as páginas
de um livro
de origens apagadas
e de liberdade tremida

Respirou o mesmo ar
de ontem
com a saudade
a navegar na boca

Numa liberdade de ser

sem se questionar 

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Teclas tremidas

Nas teclas de um piano
em que a vibração
lhe tremeu entre os dedos
cresceu a lembrança
que foi abafando
sem saber

No olhar
viveu o desespero
de não escolher
quem quis amar

Numa boca
seca de palavras
em silêncio
esqueceu os dias
mergulhando nas noites
dos seus sentidos

Foi o que sentiu
uma sombra deixada
no rasgar da noite
cheia de vazios
no caminho estreito
que lhe percorreu a alma
e incendiou o corpo

*Segredos de mim
cobertos de ti
um sal que se dilui
nos meus olhos
e me amarga a boca *

Cidália Oliveira

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Vício de sílabas

O segredo
entranhou-se-lhe na boca
os suspiros na alma
o silêncio despertou-a
 

Abraçou a noite
amou as sombras
à luz das estrelas
 


Beijou a chuva
que lhe dissolveu os olhos
em lágrimas comuns
ao mais vivo dos mortais

Lembra-se de escrever a noite
deixar de tentar amar
limpou-lhe o corpo
mas o amor
marcou-lhe o rosto
 


Numa perfeita imperfeição
que lhe cavou os olhos
e desalinhou o gosto

Dançou-lhe
uma melodia
nos ouvidos
escondeu-se nos seus dedos
perdeu-se em porquês
que não procurava
inventou um poema
de palavras mudas
 


Vício de sílabas
regadas a tinta
sopro de palavras despidas

Tempo do silêncio
ser poeta
faltou-lhe o sentir
de outros dias
os sorrisos
de outros momentos

Eternizou as palavras

tentando mudar o tempo
fecharam-se os céus
abriram-se os olhos

Suspirou a boca

de saudade (de mim)
 
Cidália Oliveira


*Vidas que vivem em mim

sonhos ainda que procuro*

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Entre pontos

Estranho o beijo
que lhe roubou o tempo

Relembrou os dias
em que a poesia
lhe dançou nos dedos

Sentiu o amor
como as teclas de um piano
em que a melodia
deixou de se ouvir

Menina de escuro cabelo
de claros sonhos
sedenta de vida
procurou as águas do Douro
o corpo na foz ficou
a alma na saudade vive

As recordações
não se apagam
os amores
não se esquecem

Os porquês não se explicam
o vazio não se justifica
mas a tristeza fica
entre cada linha escrita

O sótão de memórias
é infinito
entre versos
o recordar fica descrito

.
Entre linhas
entre pontos
.